Acta Diurna: a natureza da informação

A Acta Diurna Populi Romani, instituída por Júlio César em 59 a.C., é frequentemente considerada a primeira forma sistemática de comunicação oficial entre o poder político e a população no mundo ocidental. Ao tornar públicas decisões do Senado, julgamentos, acontecimentos civis e actos administrativos, a Acta Diurna inaugurou um modelo de informação regular que visava, em teoria, aproximar o cidadão da vida política. No entanto, a sua natureza ambivalente levanta um paradoxo ainda hoje pertinente: a linha ténue entre transparência e propaganda, entre ignorância informativa e manipulação através do excesso ou da deturpação da informação.

No limbo entre participação e ignorância (amuse-bouche) 

A Acta Diurna consistia num boletim público diário, exposto em locais centrais de Roma, de linguagem cravada em tábuas brancas, nomeadamente de pedra. Aí, eram divulgadas não só deliberações do Senado, como também leis, nascimentos, casamentos, óbitos e notícias sobre batalhas, execuções, etc… O que hoje, numa comparação superficial, podemos chamar de jornal, o “primeiro jornal do mundo”.

Importa notar que os detentores da informação da Acta Diurna eram os elementos do poder central romano. De tal forma, que a informação disposta diariamente nas tábuas poderia ter uma relação duvidosa com a realidade. Na verdade, nas palavras da historiadora Mary Beard, “As acta não davam apenas notícias — estruturavam a narrativa da vida pública.” (Beard, 2015). Essa estruturação servia, na maioria dos casos, para fortalecer a posição do regime, aumentando a sua capacidade coerciva sobre os seus súbditos, tal como Grimal nos descreve “Roma não criou apenas formas administrativas; criou também as formas de apresentar o poder como inevitável e glorioso.” (Grimal, 1990).

Desde tempos imemoriais que a divulgação da informação navega entre transparência (fomentadora de participação) e manipulação (catalisadora de submissão) -  se saber é de facto poder, então quem controla o saber controla o poder. Contudo, os fenómenos de desinformação que hoje vivemos distinguem-se não só pela velocidade, como também pela diversidade de conteúdos personalizados a que estamos expostos. Cada um consome de acordo com o seu perfil específico de consumidor. Por outro lado, nunca tivemos tantas ferramentas para verificar todas as informações que recebemos, em teoria estamos hoje menos sujeitos a manipulação do que antes de existir internet. Contudo, o que parece ser facto é que consumimos mais do que verificamos. 

Isto é, de forma sucinta e vaga, um dilema eterno da filosofia, física, biologia e de todas as áreas do saber. Tal acontece porque, nas palavras de Harari: ”(…) quanto mais elementares os conceitos, mais difícil se torna defini-los. Sendo basilares a tudo o resto, parecem não ter, eles mesmos, uma base propriamente dita.” (Harari, 2024, p.37)


A informação é exatamente um desses conceitos que sofre de estiramento quotidianamente. Este brevíssimo artigo não pretende responder a nenhuma pergunta ou questão levantada até aqui, apenas plantar estes conceitos na mente de quem lê. Instigar, talvez, a leitura do livro Nexus de Harari - bem humorado e desafiante. 

Acta Diurna AACEP: onde opinião e informação não se misturam

O objeto fundamental deste artigo é introduzir a Acta Diurna AACEP, que apesar de ter nome inspirado nas tábuas brancas de Roma, não pretende reescrever ou branquear factos históricos, sendo antes um espaço livre (de centros de poder) e diverso. Aliás, a evocação ao “primeiro jornal do mundo”, prende-se com o facto de este ter sido a semente de grande parte da participação cívica que chegou aos nossos dias. 

Como tal, enquanto parte de um projeto de jovens independente focado na educação política e económica de valores democráticos, a Acta Diurna AACEP, ainda que digital, pretende dar voz a novos rostos pensantes da nossa geração. 

Fortalecida pela diversidade temática, abrangendo toda a sociedade, a Acta Diurna pretende também fomentar o diálogo inter-geracional, onde o espírito de partilha e aprendizagem encontram a experiência vivida de quem enfrentou desafios do seu tempo que hoje se repetem sobre nomes e nuances sempre diferentes.

Na Acta Diurna AACEP, a opinião patente em cada artigo representa o universo de quem a escreve. Embora não seja representativa da realidade ou da verdade, é um primeiro passo para conhecer um pouco de alguém que é também parte da nossa realidade.

Vamos ao debate, liberto, democrata e humanista!

Juntos pela Democracia, Unidos pelo Conhecimento.

Próximo
Próximo

Tomorrowland 2025: ‘’O palco arde, os sonhos não.’’